Estamos chegando no final do mês de Setembro, esse mês que é permeado de campanhas pela prevenção ao suicídio, onde vamos de encontro de temas como a depressão, o luto, ansiedade e saúde mental.
Setembro amarelo certamente traz consigo uma iniciativa de gerar uma maior propagação e visibilidade do suicídio, levando informação e quebrando os muros do julgamento, ainda muito presente em nossa sociedade. Um assunto que devemos abordar durante o ano inteiro, no intuito de oferecer um maior acolhimento e prevenção em pessoas que apresentam ideação suicida, junto das famílias e toda rede de apoio.
Pelo olhar da psicanálise, entendemos que a pessoa pensa no suicídio como uma forma de acabar com uma dor insuportável, não encontrando outras formas e perspectivas de melhora. Somos todos dotados de desejos, singularidades, comportamentos que são influenciados por conteúdos inconscientes. Todas as experiências que passamos desde o momento que nascemos, fazem parte da construção da identidade, deixando registros marcados em nosso mundo inconsciente, que em sua maior parte não conseguimos ter acesso por simples vontade.
Existem muitos fatores que podem influenciar uma pessoa que está tendo ideação suicida, fatores psíquicos, sociais, econômicos, culturais, ambientais, a família sendo o primeiro núcleo que envolve figuras de identificação e poder, tendo uma grande influência para a saúde mental, como disse anteriormente, a construção da nossa identidade está atrelada diretamente com as figuras dos pais ou cuidadores presentes durante a infância e adolescência.
Ter uma família acolhedora desde a infância oportuniza ao sujeito aprender e internalizar um grande repertório que ajuda a lidar com frustrações de forma assertiva. Em um lar afetuoso, com figuras de autoridade amorosa, se aprende formas de lidar com perdas, lutos, desavenças, desânimo, entre outros, de maneira que o ego não precise se punir. Há sempre um objeto de investimento da libido que mereça uma nova chance ou mesmo o desinvestimento saudável (OSTI; SEI, 2016)
Acho importante ressaltar, mesmo em pessoas cuja a família é estruturada, oferecendo um ambiente saudável para seu desenvolvimento, não estão livres de sofrimentos e acontecimentos que podem gerar um grande impacto em suas vidas, muitos fatores externos e inesperados podem surgir e abalar suas estruturas, um luto, uma depressão, aspectos sociais nos quais estão rodeados, tudo isso é uma soma de fatores que podem estar atrelados ao sofrimento e a ideação suicida, digo isso, pois muitas famílias sofrem e se culpam, buscando respostas, muitas vezes difíceis de encontrar.
Idealizar a morte indica um sofrimento psíquico intenso, e quando somados aos fatores de risco como depressão, transtornos mentais não tratados, isolamento e perdas, entre outros, podem maximizar essa dor e sofrimento.
A psicanálise como teoria e técnica oferece e propõe um olhar livre de pré-conceito, para as dores da “alma”, buscamos o alívio do sofrimento por meio de uma escuta ativa, da transferência e da empatia, sabendo que cada caso é único, e o sofrimento psíquico tem causas diversas, levamos o paciente a verbalizar suas angústias de maneira a aliviar a dor sentida.
Cada ser humano é único e com peculiaridades que o constroem dialeticamente. Mais do que introduzir o sujeito em uma categoria de sofrimento, faz-se importante ouvi-lo, assisti-lo em sua dor e despertar significados singulares do seu inconsciente que somente aquele sujeito os vivenciará (BIRMAN, 1991).
O estágio da Ideação suicida é aquele estágio que a pessoa ainda está aberta a encontrar significados para continuar vivendo ou não, é a partir dos sinais que a família, os amigos e os profissionais da saúde mental podem fazer intervenções pontuais para cuidar dessa ferida que gera um sofrimento psíquico intenso, dando a ele uma nova perspectiva de vida.
Busque ajuda de um profissional, em casos de emergência utilize os canais oferecidos de forma gratuita:
CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);
UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais;
Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita).
Por: Clarisse Mendes - Psicanalista
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